Em Sydney, uma recente discussão sobre o Planejamento do Distrito Cultural apoiado pela Administração Municipal levantou importantes questões sobre como a cidade pode competir na corrida global da cultura. Sara Anne Best considera que essa discussão levantou as questões erradas. Originalmente publicado no Australian Design Review como "Cultural Ribbon or Coastal Connections", este artigo argumenta que Sydney, com uma indústria da cultura e do turismo tão focada no lazer ao ar livre, poderia encontrar uma forma mais "pessoal" de atrair atenção, uma estratégia que inclua a grande área metropolitana, ao invés de focar apenas no centro cultural. O artigo coloca: "Com três das praias mais icônicas da cidade passando por renovações, qual é o papel da orla CBD no contexto da identidade cultural de Sydney?" Descubra a seguir.
Imaginar as distintas instituições culturais de Sydney como uma constelação ativa é um passo em direção à excelência urbana. Fomentar uma cultura de cooperação, não competição. Lembrar esses venerados estabelecimentos de suas responsabilidades como guardiões de seus respectivos papeis culturais, deixado de lado na pressa pela comercialização. Sob o plano da Cidade de Sydney de se tornar "verde, global e conectada" até 2030, as instituições culturais não mais serão ilhas de privilégio, mas defensoras da participação.
Uma discussão valiosa, certamente, mas se passaram quase 20 anos desde a explosão Bilbao que deu origem ao "Planejamento de Distritos Culturais". Naquela época as cidades cultivavam uma indústria global em busca de "oferta cultural". Segundo o especialista Adrian Ellis, isso se tornou um índice precipitado de habitabilidade e as cidades imploravam por isso na ânsia de atrair turismo e mão de obra intelectualizada. Há 75 desses distritos planejados ao redor do mundo, com uma despesa estimada em US$ 200 bilhões para os próximos 10-15 anos.
Numa era em que cidades se tornaram commodities intercambiáveis, Ellis enfatiza a importância da oferta cultural como declaração de identidade e indicador estratégico. Mas como pode a identidade ser construída em torno de distritos que precisam ser forjados à existência? O que uma cidade aspirante tem a ganhar ao ter sua própria ilha dos museus, como Berlim, ou um High Line ao estilo de Nova Iorque? Particularmente se você já tem uma justa e honesta Opera House?
O "cinturão cultural" planejado para Sydney apresenta todas as características para ser, antes de tudo, um logo turístico, e apenas então, uma estratégia de planejamento. Imagine uma pincelada delineando as suaves curvas da orla portuária, girando e se torcendo para revelar as icônicas conchas de Bennelong Point. Uma "pista de caminhada e muito mais" conectando nossos ícones cultuais e "destacando o cenário do porto ao longo do caminho." Fadiga cultural, alguém?
Focar com tanta intensidade no poder de atração das artes parece limitado quando a identidade e cultura de Sydney estão tão incorporadas aos ambientes externos, aos esportes, à praia. Uma estratégia que conecte nossas artes e instituições de memória aos parques, piscinas e áreas recreacionais não criaria uma diversidade única à Sydney?
Três das praias icônicas de Sydney estão passando por uma reforma urbana. Verdade, localizam-se fora da área de administração local de Sydney. Mas eu argumentaria que a capacidade de nossas praias de atrair capital global garante sua inclusão em qualquer debate acerca da habitabilidade e identidade da cidade. O papel da orla CBD precisa evoluir de posto costeiro a distrito conectado da grande Sydney.
Para turistas, Bondi é a terceira atração mais popular que Sydney tem a oferecer - 44% dos visitantes internacionais vão (com dificuldade) a este cobiçado trecho da orla. É um destino escolhido por turistas internacionais bem como por habitantes locais, juntamente com Manly e Cronulla. As obras planejadas para essas áreas são ambíguas na escala do conselho local, mas têm como foco a natureza.
O Waverley Council destinou US$ 20 milhões ao longo de 10 anos para a criação de um bolsão de árvores para sombreamento entre a areia e a Campbell Parade, melhorar a infraestrutura e restaurar o pavilhão; o Manly Council pretende investir US$ 80 milhões na criação de uma praça, uma nova biblioteca e na ativação de ruas subutilizadas; e o Sutherland Shire Council pede por ideias para os programas de Cronulla, buscando reforçar a conexão até a praia e melhorar as instalações do shopping aberto. O plano de gestão de Bondi promete investigar opções de transporte leve sob trilhos, tema também abordado pelo Masterplan de Manly, embora ambos ainda tenham muitos compromissos com estacionamento para carros.
O que falta é uma proposta que conecte a praia à cidade, uma proposta que parta da presença cultural de Sydney e contribua para sua identidade.
Poderia a Grande Sydney contar com um posto avançado de uma das nossas mais significativas instituições, assim como o Moderna Museet in Malmö ou o Tate St Ives? Como uma alternativa, o MCA poderia se instalar temporariamente no Pavilhão Bondi. Brighton tem a capacidade de abrigar uma grande intervenção costeira (como o Kastrup Sea Bath, por exemplo), atraindo moradores e turistas a novas partes da cidade. E talvez o Tate pudesse nos ajudar com o Entertainment Quarter ao invés do Barangaroo - criando um distrito de esporte e cultura entre a CBD e a costa. Poderia inclusive haver um VLT e uma ciclovia conectando os três.